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Michelle Brito aposta no Roland Garros Junior 2007

Michelle Larcher de Brito passou por Lisboa no final da semana, antes de seguir para França, onde irá competir em torneios de terra batida, com vista à sua preparação para o Roland Garros Júnior.

A jovem tenista portuguesa de 14 anos, radicada nos Estados Unidos há quatro, onde faz a sua formação na Academia Nick Bollettieri, vai competir em dois torneios ITF do circuito mundial de Sub-18, em França. O primeiro a partir de dia 16, em Istres (G2); o segundo em Beaulieu sur Mer (G1), com início a 20 de Abril. Michelle terá de somar 150 pontos de forma a ter entrada directa em Roland Garros, mas caso tal não suceda a portuguesa poderá ainda recorrer ao  “wild card”.

A visita a Lisboa foi decidida no último instante, antes de rumar a terras gaulesas. «Tinha de fazer exames médicos de rotina no centro de Medicina Desportivo e tratar dos vistos na Embaixada dos Estados Unidos em Portugal, por isso aproveitei para vir a Lisboa, até porque já sentia muitas saudades da minha família. Já não os via há um ano».

A acompanhar Michelle, como sempre, os pais, António e Caroline, e os gémeos Sebastião e Sérgio, de 18 anos. António Brito adianta: «A Michelle fez questão de vir a Lisboa. A minha ideia era seguirmos directamente para França, para ela estar mais concentrada nas provas que tem pela frente, mas as saudades foram mais fortes. Ela já não os via há um ano e os irmãos há quatro...».

«É um pouco difícil estar longe de casa e sinto saudades. Treino todos os dias, faço a minha vida normal e tento não pensar muito nisso, mas se há oportunidade de vir a Lisboa aproveito», afirma a jovem tenista que em 48 horas teve uma agenda preenchida.

Depois dos exames no CMD, que ocuparam a manhã de quinta-feira, Michelle passou largas horas das poucas que esteve em Lisboa na Embaixada dos EUA. O tempo livre foi passado junto de familiares e com treinos curtos nos campos do Estádio Nacional. 

Adaptação à terra batida

O objectivo das próximas semanas de preparação e competição passa pela adaptação à terra batida, superfície na qual afirma sentir-se pouco à vontade. «Não gosto muito de terra batida, o jogo é demasiado lento e os pontos muito longos. Prefiro pisos rápidos, até porque nos Estados Unidos a maior parte dos torneios são em superfície rápida», diz.

Já o pai e treinador de Michelle adianta: «A Michelle já não joga em terra batida há um ano, a última vez que jogou foi com o Gastão Elias, no Estoril Open. Ela afirma sentir dificuldades mas sabemos que é apenas alguma insegurança, quando começar a jogar será a Michelle de sempre. Vamos estar duas semanas em França e depois talvez em Itália, mas dependerá dos resultados que conseguir atingir nas provas francesas. Se for passando as rondas e entrar muito na competição, provavelmente não jogará os torneios em Itália. Se fizer apenas a primeira ou segunda rondas pensamos nos passos a seguir. O fundamental é a Michelle não se cansar muito pois o principal é o Roland Garros Junior».

Os dois torneios em França são os primeiros de Michelle na Europa. «Só costumo jogar nos Estados Unidos e por isso também não conheço bem as jogadoras adversárias. Há uma tenista austríaca que está nas dez primeiras do Mundo e mais uma ou outra que conheço a forma de estar em campo. Mas nunca joguei com elas, principalmente em terra batida».

No torneio de Istres, Michelle surge como a terceira favorita e é a atleta mais nova em competição. Com 14 anos feitos a 29 de Janeiro, Michelle Larcher de Brito desde sempre tem batido todos os recordes de precocidade. Aos 8 anos, em Portugal, atingiu a final do Nacional de sub-12, e aos 9 foi campeã do escalão e já tinha ganho tudo o que havia a ganhar. Em 2005, no Eddie Herr International bateu o recorde de Maria Sharapova e sagrou-se campeã com 12 anos. Michelle tem oferecido ao Ténis português vários recordes.

Timidez e humildade fazem uma campeã

Michelle tem uma forma especial de estar no Ténis. Não gosta de falar dos seus sonhos, dos seus objectivos, ou de comentar o jogo de outras tenistas ou ser fotografada ao lado delas.  «Sei que mais cedo ou mais tarde vou ter de me defrontar no campo com jogadoras que respeito muito e por isso quero manter algum distanciamento. É uma forma de preparação psicológica», afirma, enquanto António Brito acrescenta: 

«A Michelle só agora começou a interiorizar que as tenistas que para ela são Estrelas começam a ser as suas adversárias. Cada vez mais tem de jogar com grandes atletas. Por exemplo, recentemente ela esteve a treinar e a jogar com a Mónica Seles, que tanto respeita. Houve algumas bolas que ela teve o cuidado de não forçar para que a Seles não perdesse. A Michelle sentia a obrigação de não fazer o seu melhor jogo para não ganhar a uma tenista que admira desde sempre. Tem de começar a mudar esta forma de pensar, pois agora também ela é uma jogadora de grande nível, também ela é considerada uma Estrela».

Reservada quanto aos objectivos, Michelle afirma: «Não gosto de afirmar que vou fazer isto ou atingir aquilo, porque depois posso não conseguir. É óbvio que tenho os meus sonhos, as minhas metas. Dentro de casa temos os nossos objectivos, porque sem eles ninguém vive, simplesmente não falamos deles. Encaro a minha carreira no Ténis passo a passo, jogo a jogo e ponto a ponto.»

Por isso mesmo o facto de ser considerada em todo o Mundo como a tenista sensação tenha surpreendido a jovem tenista. «Como só costumo jogar nos Estados Unidos fiquei surpreendida por ver que jornais de outros Países, na Europa e até em África falavam de mim, que me conhecem. Não é assustador, nem inibe, mas é de facto surpreendente».

Parte deste trabalho é feito pela IMG, a empresa que gere a carreira e imagem de Michelle Larcher de Brito. «É bom saber que temos alguém que nos apoia, que nos dá um plano e trata de nós. Eles gerem os patrocínios e os contratos, tratam das entrevistas e das fotos», diz Michelle.

António Brito adianta: «A IMG faz um plano de Comunicação e é de facto surpreendente ver que em países com os quais não temos ligação a Michelle é falada e é-lhes querida. Mas quanto à parte competitiva a IMG apenas nos dá sugestões de torneios. Todos o percurso competitivo é decidido pela Michelle e por mim e pelo Nick Bollettieri enquanto treinadores. Nós temos o nosso cantinho, queremos continuar a trabalhar com tranquilidade, humildade e sem dar muito nas vistas. Não queremos ser propriamente uma estrela de Hollywood ou ter o protagonismo de outras tenistas. A Michelle tem apenas 14 anos e leva uma vida normal, treina, vai à escola e sai com os amigos».


Uma vida normal

O dia a dia de Michelle Larcher de Brito na Academia de Ténis Nick Bollettieri deixa facilmente perceber o talento e devoção ao Ténis.

«Das 7 às 8 ou 8.30 e meia faço trabalho de ginásio, depois tomo o pequeno-almoço e entre as 9 e as 11 jogo ténis. Às 11 vou para a escola, até às 14 horas e depois regresso aos courts, onde treino até às 17 horas. Regresso a casa, faço os trabalho da escola, janto e deito-me, para recomeçar um novo dia», afirma Michelle, afastando de todo a ideia de que é necessário espírito de sacrifício para se atingir um ponto alto na modalidade. «Já estou habituada, gosto desta rotina e acima de tudo é o meu sonho».

E é acima de tudo um sonho de família. Os Larcher de Brito vieram da África do Sul para Portugal onde estiveram entre 1988/89 e 2002, ano em que perceberam facilmente a evolução na carreira da benjamim da família e que a sua continuidade só poderia dar-se numa centro de treino altamente profissionalizado. O clima e o factor oportunidade foram também decisivos.

«Todos nós vivemos para o Ténis. Os irmãos da Michelle também jogam e foi durante os treinos e torneios em que eles competiam, em Portugal, que ela começou a querer jogar. Com três anos pegou na raquete. Quanto aos nove anos já tinha ganho todas as provas do escalão de sub-12 percebemos que tinha de receber outro tipo de preparação. Surgiu a oportunidade de frequentar a Academia, com uma bolsa, e aproveitámos. As condições de treino, de acesso aos campos, o facto de poder treinar e jogar com alguns dos melhores tenistas do Mundo que vão passando pela Academia foram factores decisivos, além do clima fabuloso da Flórida, onde quase nunca chove», explica o patriarca da família.

Apesar do intenso trabalho desenvolvido diariamente Michelle adianta: «Tenho de facto uma vida igual a outros jovens. Todas as sextas-feiras vou ao cinema com os meus amigos, aos fins-de-semana passo pela Academia para conversar com eles e no dia a dia estudo e treino».

A outra paixão de Michelle são os animais... «Adoro animais, a disciplina que mais gosto na escola é Ciências, mas apesar de pensar que um dia mais tarde poderia vir a ser veterinária tenho um problema... não consigo ver sangue ou agulhas. Mesmo que um dia pense vir a ter qualquer outra profissão além do ténis será ligada aos animais».

Os 14 anos que não deixam voar mais alto

Os 14 anos de Michelle impedem-na de voar mais alto... para já. O tenista portuguesa participou já este ano no único torneio profissional que lhe é permitido por regulamento, competiu num torneio de 75 e poderá ainda jogar mais uma prova de 75 ou 100 mil dólares. O resto da época terá de ser feita em torneios até 25 mil dólares e no circuito júnior. «Apesar de ter pena de não poder jogar outras provas não é o fim do Mundo», afirma Michelle.

Quando entra no campo a jovem afirma que tenta «não pensar muito, para a cabeça não bloquear».  

«Jogo ponto a ponto e tento ganhar. Se perco volto a treinar mais e  corrijo os erros. Tento não desanimar muito, apesar de ser um pouco pessimista», admite.  «Mas sei que quando estou irritada jogo muito melhor, quase sempre ganho. Se cometo erros fico irritada comigo própria e começo a jogar melhor, e se por acaso a arbitragem toma decisões erradas, se dizem que a bola está fora e sei que estava dentro ainda mais me irrito. Lembro-me de um jogo em Filadélfia em que o árbitro por diversas vezes cometeu esse erro, fiquei tão zangada que ganhei logo o jogo».

A pressão sentida por Michelle para se tornar cidadã norte-americana é grande, mas a jovem continua a sentir-se muito portuguesa. António Brito afirma: «Eles tem interesse em que a Michelle adquira a nacionalidade, o argumento é forte, dizem que é uma carreira curta e que ela tem de pensar no futuro e saber gerir a sua carreira financeira. Eles têm razão... mas nós também. A Michelle é portuguesa, nasceu cá e o seu coração está cá. Para ela esta é a melhor opção».

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