Número 67.º do ranking mundial, Martim Sousa é um dos jogadores portugueses a apostar no ténis de praia e que vai marcar presença no Portugal Beach Tennis Open. Chegou aos quartos de final do BT50 de Matosinhos que serve de preparação para o Sand Series. O açoriano fala da importância deste Grand Slam da variante a realizar-se em solo nacional, de jogar com o irmão e do espírito que se vive
Qual a importância de ter um torneio como o Sand Series em Portugal. Isto na perspetiva de quem é profissional de ténis de praia?
MARTIM SOUSA – Para nós é incrível poder ter um Sand Series em casa, digamos assim. Só mostra o investimento que se tem feito de toda a gente. Não só da parte dos jogadores, mas também por parte da Federação, porque fazer um evento destes não é fácil. É preciso uma estrutura muito grande. É a melhor mostra da evolução do beach tennis em Portugal. Há outras coisas, nomeadamente alguns dos nossos resultados, que também vêm desse apoio que temos por parte da Federação.

Como é que o ténis de praia entra na tua vida?
MS – Tudo começou numa brincadeira que foi ficando mais séria. Decidimos jogar juntos eu e o meu irmão [Miguel Sousa]. Aliás, tive de convencê-lo a jogar, porque ele, ao início, não queria. Depois temos tido diferentes parceiros de jogo. Começamos lá na Praia do Pópulo, nos Açores. Pouco a pouco, fui fazendo um torneio, depois outro. Começou a correr bem e fomos continuando. Ao final de dois, três anos é mais a sério. Sinto-me muito feliz por também fazer um bocadinho parte deste crescimento. Tentamos ajudar ao máximo, sempre que possível.
Passaste duas rondas e estás nos quartos de final do BT50. Quais primeiras sensações neste evento que inicia a festa do Portugal Beach Tennis Open?
MS – Correu bem. Ganhámos [com Daniel Canellas, do Brasil] as duas primeiras rondas. Foi para preparar, basicamente, o Sand Series. Para tirar sensações e não há nada melhor do que vitórias, claro [sorrisos].
O Daniel Canellas é uma aposta de parceria para a temporada?
MS – Aconteceu por acaso. Eu já tinha programado fazer dois torneios no Brasil, porque o meu treinador também estava lá, para poder treinar com ele. Na altura, andava à procura de parceiros e até enviei mensagem para ele. Combinámos um torneio dos dois, pois no outro, o Daniel já tinha parceiro. Fomos um bocadinho às cegas. Só que acabamos por passar o qualifying. Ainda ganhámos a primeira ronda a uma dupla bastante forte. (3:24) E acabámos por perder na segunda ronda contra os primeiros cabeças de série, mas ficámos com sensações muito boas. Encaixámos na perfeição, o que é difícil.

No Campeonato Nacional, jogaste ao lado do teu irmão, e só perderam na final para os Henrique Freitas e Pedro Maio, 11 vezes campeões nacionais. Como é formar parceria com o Miguel?
MS – E eu e o meu irmão já tínhamos falado que seria bom jogarmos com outros parceiros, tanto para a evolução dele, como para a minha. Isto de jogar com irmãos tem as suas coisas… [risos]. Não é sempre fácil. Tirando os Mundiais, o Europeu e o Campeonato Nacional, que aí jogo com o meu irmão. O Nacional tem sido uma batalha, frente ao Henrique e ao Pedro, já o quarto ano consecutivo que perdemos na final. Acho que nós estamos cada vez mais próximos, mas temos de dar-lhes os parabéns. Ano após ano, encontram sempre maneiras para manter a motivação. Nós também começamos a investir mais, dedicamos mais horas à competição e já não é o que era, mesmo para eles. Estão de parabéns, porque na final o primeiro set foi muito bem disputado, podia ter caído para as outras partes e mudado um pouco o rumo. Mas, a verdade, é que é o quarto ano consecutivo contra nós, na final, e a 11.ª vez consecutiva que eles ganham. Estamos cada vez mais próximos e queremos mais. Queremos ganhar. Tudo tem o seu tempo. E as coisas acontecem por alguma razão.
O ténis de praia é mais do que uma modalidade, é uma espécie de estilo de vida, bem diferente do que se sente no ténis convencional. No teu caso, porquê o ténis de praia?
MS – No meu caso, começou por um convite de alguém que eu nem conhecia a modalidade, na altura. Foi no pós-pandemia, foi em 2021 que comecei. Era um dos poucos desportos que se podia competir, na altura, em São Miguel, por causa da Covid-19. Comecei a brincadeira, mas depois o ambiente é cativante. Comparo muito com o ambiente dos surfistas. A vibe do surfista é a vibe de praia. Tudo é muito mais relaxado, mais diversão. As coisas são feitas da mesma maneira, com a mesma qualidade, o profissionalismo não se perde por isso. Eu sou dos jogadores que gosta das coisas direitinhas e que chateiam um pouco nesse sentido. A meu ver, se é para fazer, é para fazer bem feito. Ainda assim, nós somos todos mais tranquilos, embora com a evolução da modalidade as exigências são maiores. Mas, no final, o pé na areia e chinelos… e só isso já traz uma vibe diferente.

Já é possível viver do ténis de praia?
MS – Diria, confortavelmente, que, neste momento, os jogadores do top 20 mundial consegue viver da modalidade, através dos patrocinadores, porque embora todos os anos os prize-money venham a aumentar, tem havido crescimento enorme, mas por exemplo o número um do mundo, ganhando 14 eventos grandes, talvez ganhe 45 mil dólares ou 50 mil dólares de prize-money, num ano. Depois temos que ter os patrocinadores de raquetas. Para nós, se não fosse com os apoios que temos hoje em dia, não era possível. Para viver do beach tennis, só dando aulas também. Assim vez que estar a treinar, estou a dar treino. Ainda não é possível viver do beach tennis. Alguns, se calhar, já viajam sem despesas, mas não estão a ganhar mais do que os prize-money, que não sejam assim tão elevados. É o que é. Ano para ano, há evolução, quando comecei, os Sand Series eram de 35 mil dólares ou 50 no máximo. Portanto, já dobrou em três anos o valor total dos prize-money. Esse é o caminho, principalmente com os Sand Series e com BT400, que são as categorias mais altas. É preferível haver menos torneios, mas aumentar o prize-money. Todos ganhamos.
Fotos: Luís Barbosa