De braços no ar, com semblante algo incrédulo e raqueta largada no chão, Henrique Rocha escreveu história na jovem carreira e no ténis nacional. Vindo do qualifying para se estrear em quadros principais do Grand Slam, o portuense, de 21 anos, operou reviravolta, virou dois sets de desvantagem para levar a melhor, com 2-6, 1-6, 6-4 e duplo 6-3, sobre o checo Jakub Mensik, 19.º lugar do ranking e igual idade no BI. Assim, garantiu vitória na segunda ronda de Roland Garros para se juntar ao compatriota Nuno Borges na terceira ronda. Um momento histórico no ténis português escrito por quem parece talhado para grandes palcos!


Mensik foi o primeiro a servir, mas a pancada de arranque a roçar os 200 km/h não impediram a resposta de Rocha com winner que colocou o português na frente até surgir o primeiro ponto de break do encontro. As trocas de bola sucederam-se e mais uma oportunidade do portuense passar para a frente. Só que o prodígio checo e os serviços no T a impor o ritmo, inviabilizaram os ímpetos de Henrique.
Com duas oportunidades desperdiçadas, o luso 200.º mundial acabou por ver o próprio jogo de serviço quebrado, não obstante as pancadas demolidoras de ambos os lados da rede. Sem encontrar consistência para responder a Mensik, a desvantagem de Rocha dilatou (0-4). Todavia a persistência do português deu frutos e o contrabreak (1-4) renovava a esperança. Ao oitavo jogo, em verdadeira montanha-russa de pancadas, foi o número 19 ATP a terminar em primeiro.
O percurso notável de Henrique Rocha nesta estreia em quadros principais do Grand Slam parecia perto do fim. Apesar da procura incessante por soluções para contrariar o adversário, o jogador luso ganhou o primeiro jogo de serviço (1-1) e não mais encontrou o fio condutor para travar Mensik.


Das lotadas bancadas do court 7 do complexo de Roland Garros, ouvia-se uns ‘Bora, Bora Henrique’. E Rocha deu o ar da graça que faz dele um dos promissores tenistas da sua geração. Usando camisete de cavas, depois de uma ida ao balneário entre sets, o tenista que integra a equipa de treino do Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis foi mostrando que também ele produz ases, além das fortes pancadas de resposta que o notabilizam.
Assinou o primeiro break ao sexto jogo (3-3), fazendo o contrabreak e chegou depois ao 6-4. Era a loucura no recinto, com o português a fechar o setpoint num erro não forçado do adversário e depois de uma aparatosa queda que lhe deixou o pó de tijolo colado ao equipamento negro.
O parcial, todavia, era o alento de Henrique Rocha necessitava. No quarto set, o ténis agressivo do português, apoiado serviço bem colocado – ganhou 20 de 31 pontos – e, ao fim de 40 minutos, com um break cirúrgico ao oitavo jogo (5-3), estavam reavivadas as esperanças para a decisão na negra.


Aí a aura vitoriosa de Rocha não perdeu força e, vindo do que parecia uma derrota anunciada, o jovem português manteve o serviço de Mensik sob pressão e uma bola do checo a voar para lá da linha deu o ponto de mais história para o ténis português.
Hebrique Rocha marcou, assim, encontro inédito na terceira ronda de um Grand Slam com o cazaque Alexander Bublik, 62.º mundial que já discutiu o título de pares na catedral da terra batida.
FPT/Anastasia Barbosa